TEL-AVIV - Israel afirmou nesta quarta-feira, 16, que continuará bloqueando a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, onde sua ofensiva militar transformou o território palestino em uma "vala comum", segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF). Além disso, o Exército israelense anunciou que transformou cerca de 30% do enclave em uma zona de segurança, o que impede a habitação dos palestinos no local.
Israel bloqueia a entrada de ajuda humanitária à Gaza desde 2 de março no território palestino, onde a ONU alerta para uma situação alarmante entre os 2,4 milhões de habitantes após 18 meses de guerra entre o Exército israelense e o grupo terrorista Hamas.
"Em Gaza não entrará nenhuma ajuda humanitária. E bloquear esta ajuda é uma das principais alavancas de pressão para impedir que o Hamas a utilize como uma ferramenta com a população", disse o ministro da Defesa israelense, Israel Katz.
O Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU alertou na segunda-feira que a situação humanitária na Faixa de Gaza era talvez a pior desde o início da guerra em 7 de outubro de 2023.
O estreito território sofre escassez de alimentos, água, combustível e outros produtos essenciais, segundo as organizações humanitárias. Israel acusa o Hamas de desviar a ajuda humanitária e assumir a distribuição há meses, o que o grupo nega.
A pedido da ONU, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) realizará várias audiências a partir de 28 de abril sobre as obrigações humanitárias de Israel com os palestinos. Embora suas decisões sejam juridicamente vinculantes, o tribunal não tem meios práticos para aplicá-las.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmou que as operações militares israelenses e o bloqueio da ajuda transformaram Gaza em um cemitério para palestinos e trabalhadores humanitários. "Gaza se tornou uma vala comum para os palestinos e aqueles que vêm em sua ajuda", denunciou a MSF.
A ONU assegurou na quarta-feira que cerca de 500.000 palestinos foram deslocados desde o final do cessar-fogo, provocando o que descreveu como uma das crises humanitárias mais graves no território.
Zona de segurança
Israel retomou os ataques aéreos e terrestres na Faixa de Gaza em 18 de março, encerrando um cessar-fogo de dois meses com o Hamas, que havia em grande parte interrompido as hostilidades no território. Como parte da retomada dessas operações, o Exército israelense afirmou que havia alcançado controle operacional total de várias áreas e rotas chave em toda a Faixa de Gaza.
"Aproximadamente 30% do território da Faixa de Gaza agora está designado como Perímetro de Segurança Operativa", uma área de amortecimento onde a população palestina não pode viver, indicou o Exército, que adicionou em um comunicado que havia atacado cerca de 1.200 "alvos terroristas" por via aérea e que havia realizado mais de 100 "eliminações seletivas" desde 18 de março.
O ministro da Defesa, Israel Katz, declarou no início do mês que o Exército estava tomando controle de "vastas áreas" em Gaza, tornando-a menor e mais isolada.
Altos funcionários israelenses reafirmaram repetidamente que a pressão militar era a única forma de forçar o Hamas a libertar os 58 reféns que ainda estão detidos em Gaza.
A guerra na Faixa de Gaza eclodiu após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, no qual morreram 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis, segundo dados oficiais. Das 251 pessoas sequestradas nesse dia, 58 ainda estão retidos em Gaza, dos quais 34 estão mortos, segundo o Exército israelense.
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, indicou nesta quarta que pelo menos 1.652 palestinos morreram desde 18 de março, elevando para 51.025 os mortos desde o início das retaliações israelenses.
Nova trégua?
A Defesa Civil palestina anunciou na quarta-feira que os últimos bombardeios israelenses deixaram 11 mortos, incluindo mulheres e crianças. "Nossas equipes transferiram para o hospital Al Shifa na Cidade de Gaza 10 mortos e vários feridos, entre eles várias crianças e mulheres", disse à AFP o porta-voz desta organização de emergência, Mahmud Bassal.
Os esforços para restaurar um cessar-fogo parecem ter sido até agora em vão.
O Hamas, que chegou ao poder em Gaza em 2007 e é considerado como uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e a UE, está analisando uma proposta israelense de trégua temporária, transmitida pelos mediadores egípcios.
Segundo um alto funcionário do grupo, Israel pede o retorno de 10 reféns vivos em troca de uma trégua de "pelo menos 45 dias", a libertação de 1.231 presos palestinos detidos pelo Estado judeu e uma autorização de acesso da ajuda humanitária ao enclave. Israel ainda não se manifestou sobre o assunto./AFP
Fonte: Mundo