Bruno Henrique alegou jogo do Flamengo na Libertadores para não prestar depoimento em caso de aposta

Indiciado pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, Bruno Henrique alegou compromisso profissional com partida do Flamengo na Libertadores para não prestar depoimento em caso que investiga participação do atacante em esquema de aposta para favorecer familiares e amigos no Brasileirão de 2023, em duelo com o Santos. O documento faz parte do inquérito ao qual a reportagem do Estadão teve acesso.

A oitiva do jogador estava agendada para 1º de abril, na mesma semana da estreia do clube rubro-negro na competição continental nesta temporada. Na data em questão, uma terça-feira, a audiência de Bruno Henrique estava prevista para ocorrer às 15h (de Brasília), simultaneamente ao treinamento no CT George Helal. A defesa do atacante enviou um comunicado à PF, informando a impossibilidade de comparecimento de seu cliente na oitiva.

"Acuso o recebimento da intimação. Esclareço que meu cliente não poderá comparecer na data de hoje no horário designado, em virtude de compromissos profissionais comprovados pelo documento em anexo", escreveu Ricardo Pieri, advogado de Bruno Henrique, em e-mail enviado à PF. O profissional também alegou impossibilidade de estar presente à audiência, que seria realizada de maneira remota, em função de um julgamento previamente marcado.

Além disso, Pieri defendeu que Bruno Henrique não desejava ser interrogado, na mesma mensagem em que informou a impossibilidade de comparecer à reunião. "Esclareço que meu cliente não deseja ser interrogado, optando por prestar esclarecimentos por escrito, direito que sem dúvida lhe assiste na condição de investigado, razão pela qual desde já solicito não seja remarcada nova data para seu interrogatório."

Bruno Henrique viajou no dia seguinte, quarta-feira, à Venezuela, para a partida contra o Deportivo Táchira – vitória do Flamengo por 1 a 0, na primeira rodada da Libertadores.

Apesar das polêmicas relacionando seu nome a suspeitas de fraudes esportivas, Bruno Henrique estará presente em campo nesta quarta-feira, no confronto entre Flamengo e Juventude, válido pela quarta rodada do Brasileirão. Clube confirmou, em contato com a reportagem do Estadão, que o jogador está relacionado para a partida, que acontece no Maracanã.

Entenda o caso

A PF analisou 3.989 conversas no WhatsApp de Bruno Henrique. Muitas delas estavam apagadas, o que indica, para a PF, que o jogador deletou parte dos registros. No celular do irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, que também foi apreendido, foram flagrados diálogos que mostram o envolvimento de Bruno Henrique. Além dos dois, a PF indiciou Ludymilla Araujo Lima (cunhada) e Poliana Ester Nunes Cardoso (prima).

A investigação as dividiu em dois grupos: um com o próprio jogador, junto de seu irmão, Wander, cunhada e prima. E outro com mais seis apostadores, os quais são, segundo a PF, amigos de Wander. Todos foram indiciados.

O polo "familiar" na investigação revela troca de mensagens entre Wander, também chamado por Juninho, com o Bruno Henrique desde agosto de 2023, dois meses antes do duelo com o Santos, pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro. As apostas dos parentes, de que o jogador seria advertido com o cartão amarelo, foram realizadas em duas plataformas: Betano e Galera.bet.

Somados, Wander, Poliana e Ludymilla teriam obtido um ganho financeiro de R$ 4.967,01. Excluindo o valor apostado, o lucro obtido pelos parentes de Bruno Henrique foi de R$ 3.325,63. Vale destacar que, além dessas plataformas, o relatório aponta que existe a possibilidade de terem sido realizado apostas em outras casas, pelo limite que cada bet tem para um determinado, como o de cartão amarelos.

Procurado pela reportagem, o Flamengo reforçou compromisso com fair play desportivo e com o devido processo legal. Também em contato com a reportagem, representantes do atleta não se manifestam sobre o indiciamento. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se limitou a dizer que "questões relativas à Unidade de Integridade são sigilosas".