Polícia de SP vê nova estratégia de gangues que usam moto para roubar celulares; entenda
A moto se aproxima da calçada e freia bruscamente.
Por AT Noticias 15/04/2025 às 15:29:16 - Atualizado há
A moto se aproxima da calçada e freia bruscamente. O bandido na garupa desce e faz a abordagem à mão armada. Em segundos, a vítima tem o celular – ou outro objeto de valor – roubado. Se sobrar tempo, ainda é forçada a digitar a senha de desbloqueio do aplicativo bancário.
Abordagens desse tipo, com dois homens em uma moto, se tornaram tão frequentes em São Paulo que os veículos são alvo constante de vistorias. Até por conta disso, ladrões agora têm evitado andar em dupla em um mesmo veículo, segundo delegados ouvidos pelo Estadão.
Outras estratégias usadas pelos criminosos envolvem compartilhar armas e recorrer a financiadores da logística do roubo, que alugam capacetes e bags (mochilas) para atuarem como "falsos entregadores".
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a Polícia Militar já vistoriou mais de 2 milhões de motos até o dia 6 por meio da Operação Impacto, com fiscalização de condutores e verificação de antecedentes criminais, paralelamente à investigação da Polícia Civil.
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"Os ladrões hoje sabem que dois homens em uma motocicleta é algo suspeito", diz ao Estadão o delegado Clemente Calvo Castilhone Junior, chefe da Divisão de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
"Dois indivíduos – condutor e passageiro – chamavam a atenção para a abordagem do policial. Vimos que isso era uma preocupação (dos bandidos) até entrevistando os indivíduos que foram presos aqui (no Deic, por roubos ou latrocínios recentes)", acrescenta.
O delegado afirma que, por isso, as gangues têm mudado a forma de se distribuir nos veículos. Em geral, atuam em grupos que vão de duas a quatro pessoas. "Na maior parte das quadrilhas, agora fazem os ataques com um indivíduo somente na moto", afirma Castilhone Junior.
São Paulo tem visto uma escalada de crimes violentos, incluindo em bairros de classe média alta, como Pinheiros (zona oeste) e Vila Olímpia (zona sul). A SSP diz atuar no patrulhamento e na investigação, com média de queda de 13,5% dos roubos na capital. Como reflexo das ações conjuntas, diz a pasta, 7.825 infratores foram presos ou apreendidos.
Na última sexta-feira, 11, agentes da 3ª Central Especial de Repressão ao Crime Organizado (Cerco) deflagraram a Operação Centauro, em Pinheiros, que envolveu a abordagem 662 motocicletas.
Carro de suporte ou várias motos
As configurações são variadas, segundo delegados ouvidos pela reportagem. Por vezes, pode haver um carro dando suporte para a ação de um ou mais indivíduos de moto. Em outras ocasiões, os ladrões ficam, cada um, em uma motocicleta – se algo der errado na abordagem, os comparsas agem.
No começo do mês, o arquiteto Jefferson Aguiar, de 43 anos, morreu baleado ao intervir em assalto no Butantã, zona oeste. O roubo era praticado por dois homens, cada qual em uma moto – ao menos um dos suspeitos foi preso pelo Deic.
Pelas imagens das câmeras de segurança, é possível ver que Moura Júnior é abordado por apenas um "falso entregador", mas outras motos passam pela rua no momento do assalto. A suspeita é de que sejam comparsas do assaltante, que estariam esperando para a agir caso fosse necessário.
A percepção sobre a mudança no modus operandi é compartilhada por outros delegados ouvidos pela reportagem. "Houve maior enfoque (da polícia) em motociclistas com garupa, com maior monitoramento. Aparece um obstáculo, eles (criminosos) vão mudando um pouco de conduta", afirma um delegado atua na zona sul e que preferiu não se identificar.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana, oito em casa dez brasileiros relatam medo de assalto diante da aproximação de motocicletas. A frota de motos na capital é de 1,3 milhão.
Além disso, a circulação de veículos sobre duas rodas tem crescido nos últimos anos diante da popularização dos aplicativos de entrega de comida e compras, que ganharam força na pandemia. O serviço de mototáxi é proibido pela Prefeitura, mas empresas de transporte tentam derrubar o veto na Justiça.
As abordagens feitas por "dois homens em uma moto" são uma preocupação antiga. Há dez anos, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) chegou a aprovar a proibição da garupa, inclusive por questões de segurança, mas a medida foi vetada pelo então governador e hoje vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB).
Roubo a motos com ação de garupa
No ano passado, quando a alta dos latrocínios já começava a despontar, as regiões sul e oeste eram vistas como dois pontos de atenção, em especial por chamarem a atenção de quadrilhas focadas em roubos de motos de altas cilindradas e pela proximidade com rodovias.
Em relação a gangues que praticam roubos desse tipo, em muitos casos não há como abdicar de um bandido na garupa, já que ele é o responsável por conduzir a moto roubada se o veículo for efetivamente levado.
Mas há outras estratégias adotadas pelas gangues para tentar dificultar o trabalho da polícia nesses casos, como troca de placas e de revezamento de comparsas para tentar confundir a polícia. O entendimento ds autoridades é que, além de receptadores, há por trás redes criminosas mais complexas.
"É muito importante esse olhar sistêmico (principalmente em relação a roubos violentos e latrocínios), e o Deic tem adotado essa postura. Nada adianta só esclarecer aquilo. Uma prisão desencadeia diversas outras prisões, porque a gente vê outros indivíduos, outros coautores", afirma Castilhone Junior.
Segundo ele, há uma investigação sobre um grupo praticava roubos com a mesma moto, mas com sete placas diferentes. Os assaltos costumam ser feitos em larga escala. "Para cada latrocínio, a gente tem quatro, cinco, às vezes dez roubos atribuídos àquele dupla e a outras duplas em combinação", diz.
Recentemente, a Polícia Civil prendeu Suedna Barbosa Carneiro, de 41 anos, conhecida como "Mainha do Crime", em Paraisópolis, na zona sul. Apontada como financiadora de roubos, ela é suspeita de alugar capacetes, placas e até bags para que bandidos se passem por entregadores.
No caso de Medrado, a abordagem foi realizada por dois homens em uma moto – apesar de os bandidos estarem evitando essa configuração, ela segue acontecendo.
Era por volta das 6 horas quando o ciclista foi alvejado antes mesmo de esboçar qualquer reação. "Podia ser qualquer pessoa ali (no local do crime). Foi aleatório, parece uma roleta-russa o tempo todo", disse ao Estadão a enfermeira Jaquelini Santos, viúva da vítima.
Além de Suedna, os dois suspeitos de envolvimento direto foram presos. A polícia aponta que um deles teria participado de assalto horas depois no Brooklin, próximo dali. "O 'cara' que acertou o ciclista foi roubar logo em seguida, ele só trocou o piloto", afirma Castilhone Junior.
Segundo o policial do Deic, às vezes os bandidos saem com um objetivo, mas alteram o foco de acordo com o que encontram. "O cara que roubava moto de grande porte saía exclusivamente para aquilo, e ele precisava do motorista sobressalente na garupa", diz. "Mas esse ladrão não passava o dia em branco. Se não achava a moto que visava, ia roubar celular, anel de ouro ou relógio."
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