James Ellroy, o "cão demoníaco" da ficção policial, ainda morde: "Quero transmitir minhas obsessões"
O mundo de hoje não o interessa.
Por AT Noticias 15/04/2025 às 15:28:51 - Atualizado há
O mundo de hoje não o interessa. Aos 77 anos, James Ellroy continua retornando à Los Angeles de sua infância, uma cidade violenta, corrupta e sórdida, e considera-se o "melhor escritor de ficção policial" do mundo.
O mestre americano, conhecido por sua arte da provocação, participa do festival literário Quais du Polar, em Lyon, no sudeste da França, e confessa em uma entrevista à AFP que é "obsessivo".
Suas obsessões continuam sendo sexo, policiais e criminosos corruptos, intrigas políticas, excessos de álcool e drogas, tabloides e, claro, assassinatos.
O escritor de romances policiais James Ellroy, 77 anos, fotografado pela AFP durante o festival literário Quais du Polar, em Lyon, no sudeste da França.
Em Dália Negra, Los Angeles: Cidade Proibida ou O Grande Deserto, ele retrata um país obscuro, em um estilo que diz ter inventado, uma mistura de gírias e frases curtas e sincopadas.
"É a linguagem do insulto", diz o autor, que desmonta mitos americanos como o dos irmãos Kennedy ou Marilyn Monroe, a quem maltrata em sua última obra, Os Sedutores.
"Ela era estúpida, vazia, pretensiosa ao extremo e com a profundidade de uma tortilla. Não sou suscetível ao seu charme, desprezo-a como atriz e não dou a mínima para seu status supostamente lendário", diz, afirmando tê-la colocado no centro de sua obra "porque é reconhecível". "E precisava de uma mulher morta", completa.
'Cão demoníaco'
Os livros de Ellroy, cuja mãe foi assassinada em 1958 em Los Angeles, um crime nunca resolvido, costumam girar em torno de uma personagem feminina desaparecida.
Embora jure que "não tem nada a ver" com sua infância - "superei isso há muito tempo", diz -, esse assassinato é o evento fundador de sua obra.
Após a morte da mãe, quando tinha 10 anos, ele ficou aos cuidados de seu pai, um homem permissivo que o deixava fazer o que queria.
O jovem Ellroy acabou se desviando aos poucos e passou dez anos nas ruas, vivendo de pequenos roubos e drogas.
O escritor James Ellroy durante 9ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), realizada em Paraty no sul Fluminense.
Problemas de saúde o levaram a mudar de vida e, por volta dos trinta anos, começou a trabalhar carregando tacos de golfe e a escrever sobre suas obsessões.
Meio século depois, ele ainda não se livrou delas: "Quero transmitir minhas obsessões aos leitores, quero que leiam meus livros de maneira obsessiva", afirma o autor apelidado de "o cão demoníaco" da literatura.
Sem telefone celular
Por um ano, Ellroy escreve "à mão (...) em letras maiúsculas". "Escrevo as grandes linhas e isso me dá um esboço", conta. Quando chega a hora de redigir, "posso improvisar porque sei para onde estou indo", completa.
Alguns de seus personagens foram reais, mas "invento, interlaço e divago", admite. "Odeio pesquisar".
Mas mais do que pesquisar, ele detesta que falem com ele sobre política e sobre os Estados Unidos atual, sobre seu presidente e as novas estrelas da internet que poderiam se tornar incríveis romances policiais.
"O mundo atual não me interessa", afirma. "Não uso computador, não tenho mais telefone celular", garante esse homem alto, magro e calvo, de figura frágil, que eleva a voz se uma pergunta o incomoda.
Vivendo em Denver, Colorado, ele prepara seu próximo livro, ambientado em 1962. Não gosta de ler jornais nem literatura contemporânea.
"Só leio 'thrillers' americanos e romances populares", em busca de "boas tramas e personagens fortes."
"Sou o melhor escritor de romances policiais que já existiu, ninguém é tão bom nem tão profundo quanto eu. Mas pode ser que um dia alguém me supere", conclui.
Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.
A escritora e historiadora Mary Del Priore fez uma intensa pesquisa para escrever o livro Uma História da Velhice no Brasil, que retrata as distintas formas...
No Rio de Janeiro, 1523 pessoas perderam a vida em desastres naturais como chuvas intensas, deslizamentos, enchentes e alagamentos, de acordo com o estudo publicado