Torcidas argentinas e aposentados enfrentam polícia, e ato contra Milei vira batalha campal
BUENOS AIRES - Ao menos 124 pessoas foram detidas e dezenas ficaram feridas após a polícia da Argentina entrar em confronto com manifestantes no centro de Buenos Aires nesta quarta-feira, 12.
Por AT Noticias 13/03/2025 às 00:15:05 - Atualizado há
BUENOS AIRES - Ao menos 124 pessoas foram detidas e dezenas ficaram feridas após a polícia da Argentina entrar em confronto com manifestantes no centro de Buenos Aires nesta quarta-feira, 12. Carros foram queimados e houve pancadaria após torcedores organizados participarem de um ato em conjunto com aposentados contra o governo de Javier Milei.
Os torcedores de pelo menos trinta clubes de futebol, entre outros manifestantes, desafiaram os cordões policiais que tentavam liberar as ruas em frente ao Congresso. Alguns quebraram a calçada e atiraram as pedras contra a polícia, que respondeu com spray de pimenta, bala de borracha e canhões de água.
Inicialmente, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, havia informado 150 prisões. Mais tarde, o ministério confirmou 124 prisões. Outas 46 pessoas, entre manifestantes e policiais, ficaram feridas, sendo uma delas em estado grave.
"O que aconteceu hoje é de uma gravidade sem igual", disse Patricia Bullrich ao La Nación, acrescentando que muitas pessoas foram "preparadas para matar". "Apreendemos armas de fogo, armas brancas, todos os tipos de armadilhas para furar os pneus de carros de patrulha e motocicletas", disse ela.
O porta-voz da presidência, Manuel Ardoni, publicou imagens de pedras atiradas na calçada da Casa Rosada, sede do governo argentino. "Eles atacaram a Casa Rosada usando pedras em memória dos que morreram na pandemia. Pessoas violentas não têm o menor respeito por nada", escreveu nas redes sociais.
Os aposentados, que protestavam contra as políticas de reajuste de Javier Milei, receberam o apoio de centenas de torcedores, organizações sociais e sindicatos argentinos nesta quarta-feira. Por volta das 17h, os confrontos com a polícia começaram.
A violência escalou nos arredores do Congresso enquanto deputados discutiam o escândalo da criptomoeda $LIBRA. Na Câmara, Javier Milei sofreu um revés: a oposição conseguiu avançar para criar uma comissão de inquérito sobre o caso. Em votação separada, contudo, os deputados negaram a abertura de um processo de impeachment contra o presidente.
A oposição conseguiu forçar o debate dos comitês da Câmara, que devem se reunir na semana que vem para analisar dez propostas com diferentes medidas para investigar a criptomoeda divulgada por Javier Milei.
Apesar da resistência da base do governo, a convocação dos comitês foi aprovada por um placar de 134 a 94 votos no plenário. Entre as propostas que serão discutidas, há pedidos de relatórios e questionamentos a funcionários do poder Executivo, além da criação de uma comissão de inquérito sobre o envolvimento de Milei e sua irmã Karina, a secretária-geral da presidência, com a $LIBRA.
Torcedor do Rosario Central é reprimido com spray de pimenta no centro de Buenos Aires
Impeachment fracassa no Congresso
Os peronistas buscavam ainda abrir os procedimentos para o impeachment de Javier Milei, mas não tiveram sucesso. "A magnitude e a gravidade dos fatos que envolvem o presidente nesse esquema merecem uma resposta da Câmara", declarou Germán Martínez, líder do bloco União Pela Pátria.
A abertura do impeachment foi negada por 128 deputados. Apenas 104 votaram a favor. "Para surpresa de ninguém", criticou a deputada do União Pela Pátria Paula Penacca ao apontar os setores da oposição que votaram contra. "Alguns se indignam nas redes sociais e na imprensa, mas quando se tratar de usar todas as ferramentas que o Congresso tem para avançar com a investigação e determinar as responsabilidades desse grave delito sem precedentes, olham para o lado".
Javier Milei, por sua vez, disse que agiu de "boa fé" ao divulgar a $LIBRA e que os investidores sabiam dos riscos, comparando a criptomoeda aos cassinos. O governo abriu um procedimento interno para investigar o caso.
Milei faz visita surpresa a região atingida por tempestade
Milei, viajou nesta quarta a Bahía Blanca, ao sul da província de Buenos Aires, aonde as enchentes deixaram 16 mortos e 100 desaparecidos há cinco dias, incluindo duas irmãs, de 1 e 5 anos.
Na sexta-feira passada, a forte tempestade provocou o rompimento dos canais de drenagem que atravessam a cidade portuária de 350 mil habitantes. Em apenas algumas horas, a chuva dobrou a média histórica anual.
A água inundou o hospital principal, que teve que ser esvaziado por enfermeiros de madrugada. Também arrancou pontes, destruiu estradas e varreu tudo em seu caminho, deixando carros empilhados, casas destruídas e mil pessoas deslocadas.
O prefeito Federico Susbielles estimou que aproximadamente US$ 400 milhões (R$2,33 bilhões) serão necessários para a reconstrução. "Mais de 70% da população de Bahía Blanca sofreu danos graves", disse ele na segunda-feira.
Milei apareceu de surpresa em Baía Blanca e o seu governo liberou o equivalente a US$ 9,2 milhões de dólares (R$ 53 bilhões) para a província. O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, considerou as estimativas "insuficientes" e pediu a Milei que destine uma parcela do novo empréstimo que a Argentina negocia com o Fundo Monetário Internacional a Bahía Blanca./COM AFP