Frei Gilson é promovido por Bolsonaro, vira alvo da militância de Lula e Janones critica estratégia
BRASÍLIA – Um religioso da ala ultraconservadora da Igreja Católica considerado um popstar, com milhões de seguidores nas redes sociais, foi tragado para a polarização do debate político nacional.
Por AT Noticias 12/03/2025 às 12:24:18 - Atualizado há
BRASÍLIA – Um religioso da ala ultraconservadora da Igreja Católica considerado um popstar, com milhões de seguidores nas redes sociais, foi tragado para a polarização do debate político nacional. Gilson da Silva Pupo Azevedo, o frei Gilson, entrou em evidência depois de reunir mais de 1 milhão de fiéis em uma live na madrugada de quarta-feira, 5, início do período da Quaresma para os católicos.
Com a ascensão do religioso e a proliferação de recortes de trechos de suas pregações, movimentos políticos conservadores se associaram ao frade de 38 anos que é membro da congregação Carmelitas Mensageiros do Espírito Santo. Ele lidera o grupo de evangelização musical Som do Monte e é próximo da Canção Nova, uma rede conservadora do catolicismo no Brasil. No YouTube, tem 6,4 milhões de seguidores. No Instagram, mais 7,3 milhões.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), primeiro, publicou uma foto de frei Gilson em seu perfil oficial no X (antigo Twitter) neste domingo, 9, sem nenhum comentário. A iniciativa foi vista como endosso do político denunciado por tentar um golpe de Estado armado e foi seguida por centenas de comentários alegando perseguição política ao padre pela esquerda. Mais tarde, Bolsonaro escreveu que o católico "se apresenta como um fenômeno em oração, juntando milhões pela palavra do Criador" e por isso "vem sendo atacado pela esquerda".
Evangélico, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos parlamentares com maior alcance nas redes sociais, também saiu em defesa de frei Gilson neste domingo e publicou vídeo prestando solidariedade aos católicos.
"Começaram diversos ataques. Para quem é cristão, isso é algo natural, ser atacado por seguir a Cristo. Óbvio que por ele ser católico e eu ser evangélico temos nossas divergências teológicas. Mas conheci pessoalmente, é uma pessoa extraordinária", disse o deputado. "Quão deteriorada tem que ser a alma de uma pessoa que está reclamando porque tem pessoas rezando às 4 da manhã."
Frei Gilson é representante de ala ultraconservadora da Igreja Católica
A militância digital do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de fato, entrou em campanha contra o ultraconservador católico. O grupo "Militância Raiz", do Telegram, que reúne influenciadores governistas e petistas que atuam para defender o governo e atacar adversários com informações falsas ou distorcidas, publicou, no sábado, 8, que os objetivos de frei Gilson são meramente bolsonaristas.
A campanha foi disseminada como um "alerta total". O religioso, na versão da militância governista, seria uma figura usada pelo canal Brasil Paralelo, conhecido por defender Bolsonaro e por revisionismo da História, para "tomar a Igreja Católica". Fenômeno de audiência, Gilson deu uma entrevista ao canal em outubro que atraiu meio milhão de pessoas.
"Vocês já ouviram falar nesse tal frei Gilson? Ele é a aposta da Brasil Paralelo, produtora bolsonarista, pra TOMAR A IGREJA CATÓLICA, deixar de cultuar a Cristo e passar a cultuar o Bolsonaro", diz a publicação no grupo "Militância Raiz".
"Aos familiares e amigos bolsonaristas, nem adianta avisar, mas aos familiares de boa-fé, precisamos alertar para se manterem longe desse sujeito. Posso contar com vocês para divulgar por todos os cantos? A extrema direita não vai tomar a Igreja Católica", finaliza.
Grupo 'Militância Raiz', no Telegram, de apoio a Lula disseminou campanha no sábado, 8, contra frei Gilson; mensagem diz que ultraconservador católico quer instituir culto a Bolsonaro e não a Cristo
O grupo da militância no Telegram tem 7,4 mil seguidores. Mas a partir dali as publicações são disseminadas para outros aplicativos e redes sociais. A mensagem, acompanhada de um vídeo curto do frei Gilson, está espalhada, por exemplo, em grupos de WhatsApp de petistas e de apoio ao governo Lula.
Mensagem criada por grupo "Militância Raiz" de Lula, no Telegram, é espalhada por grupos de WhatsApp com apoiadores do governo; texto diz que frei Gilson quer trocar Cristo por Bolsonaro
Essa estratégia, entretanto, desagrada outra ala lulista. Há quem defenda que comprar briga com o religioso é um erro crasso, sobretudo pela dificuldade do governo em falar com segmentos evangélicos e mais conservadores.
O deputado André Janones (Avante-MG) verbalizou a crítica neste domingo. "Não basta ser rejeitado pelos evangélicos, vamos fazer uma cruzada contra os católicos também, aí a gente se elege só com o votos dos ateus em um país em que quase 80% da população é católica ou evangélica. Que tal?", escreveu, em tom irônico. O parlamentar já foi considerado dono de uma estratégia de redes sociais eficiente para a esquerda enfrentar o bolsonarismo na internet. Ele disse que os governistas merecem a impopularidade e que "toda a desgraça é pouca para gente burra e arrogante". "Incrível como a arrogância do nosso campo se sobrepõem, mesmo com impopularidade e uma derrota cada vez mais real em 2026. Continuamos mirando no jogador e esquecendo a bola", publicou.
Um dos influenciadores lulistas resgatou no X uma transmissão de 2021 de frei Gilson, em Brasília, e disse que aquela havia sido uma "live patriota". O registro tem preces para que "governantes não abusem do poder que vem de Deus", contra o "flagelo da ditadura" e do "comunismo" e para que os "erros da Rússia" não venham "assolar o Brasil". "Está bom para vocês ou já está claro que eles estão usando a religião com fins políticos?", escreveu Vinicios Betiol, um dos membros do "Militância Raiz".
Entre governistas, nem todos têm aversão ao frade famoso. Na abertura da Quaresma, o ministro Juscelino Filho, das Comunicações, publicou uma foto recebendo as bençãos do religioso em um encontro com ele na Câmara em novembro. "Que Cristo possa nos renovar com sua misericórdia e nos conduzir à humildade", postou.
Outras referências dos conservadores e dos bolsonaristas saíram em defesa de frei Gilson neste domingo.
Influenciador católico conservador, Bernardo Kuster publicou um vídeo para seus 546 mil seguidores no X lendo uma série de comentários atacando o religioso, entre eles um que chamou os adeptos da live de frei Gilson de "fiéis encapetados"."Um recadinho para a turma da lacração. Podem chorar, reclamar. Mas o frei Gilson até o fim da Quaresma vai bater 2 milhões de pessoas ao vivo simultaneamente", disse.
Em 3 de novembro de 2022, José Eduardo enviou a frei Gilson via WhatsApp uma "espécie de oração ao golpe", de acordo com a PF, pedindo que todos os brasileiros, católicos e evangélicos, incluíssem em suas orações os nomes do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e de outros 16 generais, "para que Deus lhes dê a coragem de salvar o Brasil, lhes ajude a vencer a covardia e os estimule a agir com consciência histórica e não apenas como funcionários público de farda".
José Eduardo é citado 74 vezes no relatório da PF. Ele atuou, segundo os investigadores, junto do ex-assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins, e do advogado Amauri Saad na elaboração de uma minuta de golpe de Estado.